Música

7 Discos para Viajar na Psicodelia Brasileira

A música psicodélica no Brasil emergiu como uma poderosa e revolucionária força cultural no final dos anos 60 e início dos anos 70, refletindo um período de intensa experimentação artística e contestação social. Este movimento se destacou pela fusão única de ritmos regionais, como a música nordestina e o samba, com elementos do rock, do jazz e de outras sonoridades globais. A busca incessante por novas formas de expressão levou músicos brasileiros a explorarem temas lisérgicos, letras surrealistas, e estruturas musicais inovadoras. A seguir, apresentamos os sete álbuns que definiram essa era vibrante e inesquecível da psicodelia brasileira.

7º – “Gal” (1969) – Gal Costa

Lançado em 1969, “Gal” é um marco na carreira de Gal Costa e na música brasileira. Este disco simboliza a transição de Gal de uma cantora de bossa nova para uma das maiores vozes da Tropicália, um movimento que misturou tradições musicais brasileiras com influências do rock e da psicodelia. O álbum traz arranjos ousados, guitarras elétricas e uma fusão de estilos que desafiaram os padrões da época.

Faixas como “Divino Maravilhoso” e “Meu Nome é Gal” destacam-se pela energia e pela inovação. “Cultura e Civilização”, com sua crítica social, e a releitura de “Não Identificado”, de Caetano Veloso, mostram a versatilidade e a profundidade artística de Gal. A produção de Rogério Duprat e os arranjos criativos contribuíram para o caráter vanguardista do disco.

“Gal” é um álbum que encapsula o espírito rebelde e inovador da Tropicália, influenciando gerações futuras de músicos e mantendo sua relevância e frescor até os dias de hoje. Ele não apenas consolidou Gal Costa como uma das maiores artistas brasileiras, mas também expandiu os horizontes da música popular brasileira.


6º – “Todos os Olhos” (1973) – Tom Zé

“Todos os Olhos” é um dos trabalhos mais icônicos e polêmicos de Tom Zé. Lançado em 1973, o disco é um exemplo perfeito da inventividade e da ousadia que caracterizam a carreira do artista. A capa provocativa, que gerou rumores e debates, reflete o conteúdo do álbum: uma mistura de humor, crítica social e experimentação sonora.

Musicalmente, Tom Zé explora uma variedade de estilos, incluindo o rock, a música erudita e elementos regionais. Faixas como “Complexo de Épico”, “Augusta, Angélica e Consolação” e “Brigitte Bardot” destacam-se pela letra inteligente e arranjos inusitados. O uso de ruídos e a estrutura não convencional das músicas fazem deste um disco que desafia as expectativas e as normas.

A abordagem de Tom Zé em “Todos os Olhos” vai além da música; ele utiliza o álbum como uma plataforma para questionar e satirizar a sociedade brasileira da época. O disco é um testemunho do talento único de Tom Zé em criar obras que são ao mesmo tempo divertidas, provocativas e profundamente reflexivas.


5º – “Secos e Molhados II” (1974) – Secos e Molhados

“Secos e Molhados II”, lançado em 1974, é o segundo e último álbum da formação original da banda Secos e Molhados. Embora não tenha alcançado o mesmo sucesso comercial do primeiro álbum, este disco é igualmente importante por sua contribuição para a psicodelia e o rock brasileiro. O grupo, liderado por Ney Matogrosso, foi pioneiro em misturar rock, MPB e teatralidade.

O álbum apresenta canções como “Flores Astrais”, “Tercer Mundo” e “Medo Mulato”, que mostram a habilidade do grupo em combinar letras poéticas com arranjos complexos e inovadores. A presença marcante de Ney Matogrosso e sua performance vocal distinta são elementos centrais que elevam a música do grupo a um nível artístico elevado.

A produção do disco continuou a experimentar com sons e estilos, incorporando influências da música brasileira tradicional e do rock internacional. “Secos e Molhados II” solidificou o legado da banda como uma das mais importantes e inovadoras do Brasil, influenciando músicos em diversos gêneros por décadas.


4º – “Loki?” (1974) – Arnaldo Baptista

“Loki?” é o primeiro álbum solo de Arnaldo Baptista, lançado em 1974, após sua saída dos Mutantes. Este disco é um mergulho profundo na mente de Arnaldo, refletindo sua criatividade única e sua luta pessoal. Considerado um dos álbuns mais importantes do rock brasileiro, “Loki?” é um exemplo brilhante de psicodelia e introspecção.

O álbum mistura elementos de rock progressivo, MPB e experimentações sonoras, criando uma atmosfera única. Canções como “Será Que Eu Vou Virar Bolor?”, “Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?” e “Não Estou Nem Aí” são destaques que mostram a habilidade de Arnaldo em combinar melodias cativantes com letras introspectivas e, por vezes, angustiadas.

A produção de “Loki?” é marcada pela liberdade criativa de Arnaldo, resultando em um som que é ao mesmo tempo cru e sofisticado. O álbum é uma janela para a alma do artista, oferecendo uma visão honesta e muitas vezes dolorosa de sua experiência pessoal e artística. “Loki?” continua a ser uma referência crucial para a música psicodélica e o rock brasileiro.


3º – “Ave Sangria” (1974) – Ave Sangria

O álbum homônimo de estreia da banda Ave Sangria, lançado em 1974, é um dos tesouros da psicodelia brasileira. Originária de Pernambuco, a banda trouxe uma mistura única de rock psicodélico com elementos da música nordestina, criando um som que era ao mesmo tempo inovador e enraizado nas tradições brasileiras.

Canções como “Dois Navegantes”, “O Pão e a Pobreza” e “Seu Waldir” destacam-se pela combinação de letras poéticas e críticas sociais com arranjos musicais complexos e envolventes. O uso de guitarras distorcidas, percussão regional e vocais expressivos são marcas registradas do som da Ave Sangria.

“Ave Sangria” é um álbum que transcende seu tempo, oferecendo uma experiência auditiva rica e multifacetada. A mistura de influências e a ousadia das composições fazem deste um disco essencial para quem deseja explorar a profundidade e a diversidade da música psicodélica brasileira.


2º – “Paêbiru” (1975) – Zé Ramalho e Lula Côrtes

“Paêbiru”, lançado em 1975, é um dos álbuns mais míticos e cultuados da psicodelia brasileira. Criado em colaboração entre Zé Ramalho e Lula Côrtes, o disco é uma jornada musical que combina rock psicodélico, folk e elementos da música nordestina. “Paêbiru” é inspirado no folclore e na mística em torno do caminho de Peabiru, um antigo caminho indígena.

O álbum é dividido em quatro lados, cada um representando um elemento: Terra, Ar, Fogo e Água. Faixas como “Trilha de Sumé”, “Raga dos Raios” e “Harpa dos Ares” exemplificam a exploração sonora e a fusão de estilos que caracterizam o disco. Os arranjos são ricos em instrumentos tradicionais, percussão e guitarras psicodélicas.

“Paêbiru” é uma obra-prima de experimentalismo e criatividade, capturando a essência da psicodelia brasileira em sua forma mais pura e autêntica. O álbum é raríssimo devido a uma enchente que destruiu grande parte dos vinis logo após o lançamento, aumentando ainda mais seu status lendário entre colecionadores e fãs de música psicodélica.


1º – “Vivo!” (1976) – Alceu Valença

“Vivo!” é um álbum ao vivo de Alceu Valença, lançado em 1976, que captura a energia e a inovação de suas performances. Gravado durante uma série de shows no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, o disco é um testemunho da habilidade de Alceu em misturar rock, música nordestina e psicodelia em uma experiência vibrante e envolvente.

Faixas como “Cavalo de Pau”, “Sol e Chuva” e “Vou Danado pra Catende” são destaques que mostram a capacidade de Alceu de conectar-se profundamente com o público através de sua música. A presença de ritmos regionais como o maracatu e o baião, combinados com guitarras elétricas e arranjos psicodélicos, criam um som único e cativante.

“Vivo!” é mais do que um álbum ao vivo; é uma celebração da música e da cultura brasileira, mostrando Alceu Valença no auge de sua criatividade e carisma. O disco é um marco na história da psicodelia brasileira e uma peça fundamental para entender a evolução do gênero no país.


Esses sete discos não apenas representam o auge da psicodelia brasileira, mas também são testemunhos de um período de intensa criatividade e transformação cultural. Cada álbum é uma viagem única através de sons e ideias que desafiaram as normas estabelecidas, mesclando influências regionais com tendências internacionais de uma forma inigualável. Essas obras-primas capturam a essência de uma era marcada pela inovação, ousadia e a busca incessante por novas formas de expressão artística. Ao explorar esses álbuns, somos convidados a mergulhar na riqueza e diversidade da música brasileira, apreciando a genialidade e a originalidade que definiram a psicodelia no Brasil.

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